Existe um jeito de perder peso?

Hoje nos deparamos com dietas e regimes para todos os gostos, e o percentual de obesos no Brasil em vez de diminuir aumenta a cada ano.

O estudo mais recente do Ministério da Saúde, feito com 52 395 pessoas maiores de 18 anos de idade, entre fevereiro e dezembro de 2018, revelou que a taxa de obesidade no país passou de 11,8% para 19,8%, entre 2006 e 2018. É um aumento de 67,%%. no mesmo período.

Tem mais de 40 anos que as autoridades de saúde pública repetem a mesma mensagem: se não quer engordar, reduza a gordura da alimentação. Porem, o nível de obesidade passou de 22% para 33%, de acordo com a última pesquisa americana de âmbito nacional.

Se observarmos atentamente as pesquisas vê que o inimigo não é a gordura, mas os carboidratos de fácil digestão.

Na verdade, os mesmos alimentos apresentados como base da dieta para emagrecer – iogurte sem gordura, batatas cozidas sem manteiga e macarrão simples (sem azeite, molho nem queijo) reconfiguram a nossa fisiologia para nos fazer acumular gordura.

E os alimentos que nos mandam evitar – bife, hambúrguer, queijo, até o creme de leite excluído das massas – podem finalmente nos ajudar a emagrecer e manter o coração saudável.

Gary Taube jornalista científico provocou controvérsia com as suas teses, e explica por que as dietas convencionais não funcionam, e o que se deve fazer para emagrecer.

Nos últimos cinco anos, uma série de estudos obrigou os pesquisadores a repensar os antigos preconceitos contra as dietas com pouco carboidrato. Hoje, cientistas como o Dr. Mitchell Lasar, que dirige o instituto de diabete da Universidade da Pensilvânia, e o cardiologista Allan Sideram, da Universidade Mil, levam muito a sério o argumento de Taube.

Taube chama as suas ideias de hipótese alternativa para explicar por que engordamos. Depois, com a autoconfiança de sempre, acrescenta que, “quase com certeza”, esse repensar radical “é verdadeiro”.

OS ESPECIALISTAS EM OBESIDADE ESTÃO ERRADOS

Há uma ideia fundamental sobre peso e obesidade: que engordamos por ingerir mais calorias do que gastamos. E a hipótese da gula e da preguiça: comemos demais e nos exercitamos de menos.

Soa inegável, parece bom-senso, mas, na verdade, não faz sentido algum; nada diz de importante a respeito do fato de engordarmos. Se engordo, é óbvio que comi demais. Mas aí vem a pergunta: Por que você comeu demais?

Ora, a essa pergunta não sei responder, não com a teoria de entrada e saída das calorias.

Todos reagem a isso como se eu questionasse as leis da termodinâmica. Não estou questionando nada; estou dizendo que elas não são pertinentes. Ora, é óbvio que quem está engordando ingere mais calorias do que gasta; a questão é por quê.

Há uma hipótese alternativa absurdamente simples: ninguém engorda por comer demais. As pessoas engordam porque desenvolveram um transtorno da maneira de regular o tecido adiposo. O que dizemos a todos para emagrecer, comer menos e se exercitar mais é exatamente o que se faz quando se quer ficar com fome.

AS DIETAS NÃO FUNCIONAM

Nos últimos 40 anos, estudos mostraram que não se consegue um efeito clinicamente significativo cortando calorias. Ao mesmo tempo em que dizem que a gula e a preguiça são responsáveis pelo ganho de peso, os especialistas também afirmam que sabemos que nenhum regime funciona, e é por isso que precisamos de algum remédio antiobesidade que gerará lucros incalculáveis.

 E por isso também que a comunidade médica considera sensata a solução da cirurgia bariátrica – ou seja, a alteração do sistema digestivo. Surpreende que as dietas não funcionem. Os obesos passam a vida tentando comer menos. Provavelmente, alguns logo desistem e dizem: “Isso não adianta, vou parar.”.

Mas, na maioria dos casos, podemos definir o obeso como uma pessoa para a qual comer menos não resolve. Assim, de que adianta o médico dizer simplesmente para essa pessoa comer menos? Quem corta calorias sente fome o tempo todo, isso é claro.

Mas o que também acontece é que a pessoa ajusta o gasto de energia à redução da ingestão de alimentos. Estudos em animais mostram que, quando se restringe a ingestão de calorias, as células passam a queimar menos energia, e essa é uma das razões pelas quais os pesquisadores da obesidade, nos seus momentos de sinceridade, admitem que a restrição calórica seja ineficaz.

É sabido que quanto mais energia gastamos, mais fome temos.

Quando examinamos os dados das pesquisas sobre obesidade e exercício, não há qualquer prova de que o exer­cício tenha algum efeito sobre o peso.

O Colégio Americano de Medicina Esportiva afirma, nas suas diretrizes, publicadas em conjunto com a Asso­ciação Cardíaca Americana, que é sen­sato supor que quem se exercita mais tem menos probabilidade de engordar com o tempo.

Mas, nessas mesmas di­retrizes, eles também dizem que, até agora, não há dados suficientes para comprovar essa hipótese. E esse é o beijo da morte. A hipótese tem cem anos; se até agora não há dados que a comprovem, podemos ter quase cer­teza de que está errada.

MAS HÁ UM JEITO DE EMAGRECER

As nossas mães cresceram acredi­tando que amido e carboidratos re­finados engordam: macarrão, batata, pão, doces, arroz, milho. E estavam certas: esses alimentos engordam mesmo.

Os doces feitos com açúcar refinado provavelmente são os piores, junto das combinações de água e açúcar, que podem variar de suco de fruta a Coca-Cola. A razão é que os carboidratos refinados fazem o nível de insulina subir.

Os cientis­tas sabem, desde o início da década de 1960, que a insulina é o principal hormônio que regula o tecido adiposo. Nisso não há controvérsia; basta pegar um manual de endocrinologia e pro­curar o que torna adiposa a célula adi­posa: ele lhe explicará como a insulina faz isso.

Depois, procure obesidade e o manual explicará que as pessoas en­gordam porque comem demais e se exercitam de menos. Há uma incoe­rência total entre a ciência básica e a causa da obesidade humana.

O que digo aos pesquisadores da obesidade é: prestem atenção à re­gulação hormonal e enzimática do tecido adiposo. Com isso, vocês terão uma resposta diferente à pergunta do que causa e do que cura a obesidade.

É PRECISO COMER ALIMENTOS QUE MAN­TENHAM BAIXA A INSULINA

Tendemos a pensar nas células adipo­sas como uma conta bancária em longo prazo, na qual o organismo armazena como ácidos graxos as calorias em ex­cesso, que só usaremos quando pas­sarmos fome.

Mas, na verdade, nosso tecido adiposo é mais parecido com a carteira, e as refeições são um caixa eletrônico do banco. Sabemos usar o caixa eletrônico: pomos o dinheiro na carteira e o gastamos aos poucos, e quando está quase acabando voltamos ao caixa eletrônico.

Mas a insulina tranca o dinheiro na carteira, e aí toda hora é preciso voltar ao caixa eletrô­nico. As células adiposas armazenam cada vez mais gordura, mas não con­seguimos usar os ácidos graxos arma­zenados dentro delas. Aí ficamos com fome e comemos de novo.

Nem todos engordam comendo carboidratos, e quem se livra deles pode não ficar magro. Mas vai emagrecer o máximo possível.

O SEGREDO É A DIETA COM POUCOS CARBOIDRATOS

Quando comecei a estudar esse tema, fiz uma experiência com a dieta Atkins. Nunca me passou pela cabeça fazer isso; associava a dieta a charla­tanismo. Mas aí eu ia ao restaurante com os amigos e eles pediam peito de frango sem pele e salada verde, e eu um salame com queijo mozarela der­retido como entrada e um baita bife.

E emagrecia! Quando andava pela rua, era como se desse para ver os quilos caindo atrás de mim pela calçada.

Como ovos com bacon ou linguiça no café da manhã todos os dias. No almoço, como um hambúrguer de 350 gramas com queijo, sem pão. O jantar é meio quilo de carne ou meio frango assado ou o maior pedaço de peixe que der para comprar, com legumes e verduras.

Como quanto quiser, até ficar satisfeito; só não como o que vai me engordar.

Seguimos essa dieta, fazemos o café da manhã, e, de repente, são duas ho­ras e aí penso: Xi, eu devia almoçar!

Só que não estou com fome. Eu cos­tumava fazer uma alimentação quase sem gordura e sentia fome de duas em duas horas. E engordava ano a ano.

Comparou uma dieta com pouca gordura, de 1.200 a 1.800 calorias por dia, com outra de pouquíssimo carboidrato na qual se podia comer quanto qui­sesse. Os pesquisadores, aliás, meio que esconderam essa parte.

Mal cita­ram o fato de que essa é uma dieta restritíssima em termos de calorias, comparada com outra em que se pode comer quanto quiser. Mas o que des­cobriram foi que a dieta com pouco carboidrato teve o mesmo resultado da outra.

Para mim, essa foi à obser­vação mais importante no campo da pesquisa da obesidade: que é possível uma dieta eficaz que não restringe as calorias. Mas a classe médica igno­rou esse aspecto.  E, na maioria dos estudos já feitos, a dieta com pouco carboidrato na verdade tem melhor desempenho do que a dieta com pou­cas calorias e pouca gordura.

MUITA GORDURA É MELHOR PARA O CORAÇÃO

A ideia de que a gordura da alimenta­ção provoca doença cardíaca está pro­fundamente arraigada. Quando comecei a co­mer assim, minha mulher me mandou fazer um seguro de vida.

Mas, na úl­tima década, dezenas de estudos final­mente examinaram a dieta com pouco carboidrato, os fatores de risco da doença cardíaca melhoram mais do que na dieta de pouca caloria e pouca gordura que os médicos e a Associação Cardíaca Americana re­comendam.

O HDL aumenta, e esse é o número mais importante em termos de doença cardíaca. O LDL pequeno e denso, que é o mais perigoso, se trans­forma em HDL grande e fofo. E não só o perfil do colesterol melhora como a insulina cai, a resistência à insulina some e a pressão arterial diminui.

A dieta com pouca gordura que to­dos seguem na esperança de proteger o coração é que faz mal ao coração, por ser rica em carboidratos. O es­forço dos órgãos de saúde pública para que todos comam assim é uma das razões fundamentais para a atual epidemia de obesidade e diabete.

Desço a rua, encontro um obeso e só consigo ver isso como transtorno hormonal. Nem todos engordam co­mendo carboidratos; isso tem a ver com o nível de sensibilidade das cé­lulas à insulina e, especificamente, até que ponto as células adiposas são mais sensíveis do que as células mus­culares. Mas um percentual enorme dos gordos é assim por causa dos carboidratos da alimentação.

A dieta com pouco carboidrato também pode baixar a pressão arterial, e será preciso ade­quar a medicação; quem tem alguma doença precisa antes conversar com o médico. Mas, basicamente, o que digo é: coma o que os seres humanos evolu­íram para comer. Os cereais e açúcares altamente refinados não fizeram parte da nossa alimentação durante 99,999% da história humana. Quando éramos caçadores-coletores, comíamos carne sempre que a conseguíamos e, quando comíamos plantas, elas eram muito mais rijas e fibrosas do que hoje – em outras palavras, muito mais pobres em carboidratos digeríveis. Essa não é uma dieta. A ideia fundamental é: não coma o que faz engordar.

Até próxima

Luiz C. Fokkelman

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